quarta-feira, 31 de março de 2010

Sobre o esquecimento

Hoje eu gostaria de escrever um montão de coisas.

Mas não farei isso. Esqueci.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Aniversário de Salvador

Me pediram no trabalho um texto sobre a cidade, já que ninguém melhor do que eu na redação paulistana poderia fazer isso.

E fiz.

Eis o resultado. (não consegui colocar o link aqui).

Salvador é banhada por uma baía de todos os santos, encantos e axés. Cidade de 365 igrejas, apesar de ninguém nunca ter conhecido alguém que contou, e talvez tenha o mesmo número de terreiros de candomblé.

De acarajé e dendê, mas também do pãozinho delícia, carne de sol com purê de aipim, suco de umbu, picolé capelinha, sarapatel e caldo de sururu. De *sinaleira, passadeira, mulequeira, do "men", do "rei", de ser "massa", do "cumê água", "bater baba", do pão cassetinho e da letra E, aberta como se existissem milhões de acentos agudos nela!

A cidade completa hoje 461 anos. Foi a primeira capital do Brasil e atualmente é a 3ª maior do país. Cresceu muito para provar que baiano não é preguiçoso como dizem por aí. Cresceu sem a estrutura necessária para isso. É grande e ainda provinciana. Não oferece bons salários, boa profissionalização ou boas condições de trabalho para desaparecer com a afirmação "a prestação de serviço é muito ruim". É sim. Mas em outras cidades, inclusive nas duas maiores do país, acontecem também (em maiores ou menores proporções, claro).

A falta de educação no trânsito assusta; a falta de educação nas ruas que muitas vezes cheiram a urina incomoda; a falta de dinamismo e a filosofia de "tudo se ajeita no final" irrita. Não negarei nenhum desses grandes defeitos.

Mas apesar de tudo, Salvador provoca paixões arrebatadoras em quem a visita pela primeira vez. E uma saudade imensa em quem sai de lá. Ela é musical, mas não só das músicas que todo mundo costuma ouvir no carnaval. Lá tem jazz no pôr-do-sol, tem afoxé nas escadas da igreja, tem rock no rio que é vermelho, tem salsa, rap, mpb, heavy metal, sinfonias e até uma guitarra que é baiana.

É bonita vista da Ilha de Itaparica, do Porto da Barra, da Ponta de Humaitá, do Santo Antônio além do Carmo, da Ribeira, de onde é alta, de onde é baixa, de onde a alta se encontra com a baixa e vira uma coisa só.

E o sorriso largo e o acolhimento soteropolitano também merecem respeito. Existe carinho, cuidado e vontade de ajudar, de conversar, de hospedar e mostrar o que é que a Bahia tem para quem nunca esteve lá. Existe uma proximidade fácil que, para quem viveu a vida inteira na cidade, passa desapercebida mas é gritantemente sentida para quem cruza sua fronteira.

Em Salvador existe um artista em cada esquina, só para comprovar a máxima de que "baiano não nasce, estreia". E tem capoeira, poesia, artesanato, teatro, mímica e canção. A cidade é preta, com a maior população negra fora da África, e não nega a herança pela culinária, feições, palavras e expressões.

A aniversariante de hoje é multicolorida; uma jovem senhora cheia de charme, malícia e cheiro de mar, que provoca sentimentos intensos e opostos em quem se aproxima.



Um dica soteropolitana de quem sabe o que está falando com conhecimento de causa e coração apertado pela distância: Vale a pena conhecê-la.

sábado, 27 de março de 2010

Por enquanto

Quero dormir bem, todas as noites
Quero sonhar e acordar sorrindo
Quero tomar banho de mar todos os dias
Quero não sofrer com o frio
Quero não sofrer por amor
Quero não sofrer por motivo algum
Quero conhecer o mundo, cada canto dele
Quero conversar com pessoas interessantes
Quero ver todos os filmes e seriados
Quero ler todos os livros
Quero publicar pelo menos um
Quero escrever uma história em quadrinhos
Quero escrever um roteiro que vire filme
Quero perder a vergonha de dançar em público
Quero encontrar quem saiba me conduzir numa dança
Quero me apaixonar loucamente e sentir que é recíproco
Quero sentir orgulho do que vejo no espelho
Quero ter todas as tatuagens que tiver vontade
Quero não ter alergia e usar qualquer brinco nas orelhas
Quero nunca me arrepender de mudanças no cabelo
Quero aprender a cantar sem desafinar
Quero reaprender a tocar piano
Quero gargalhar até chorar mais vezes
Quero chorar quando precisar mas sem que ninguém veja
Quero ter um programa de entrevistas
Quero ter uma coluna semanal na Folha de SP
Quero abraçar Chico Buarque, Almodóvar e García Marquez
Quero aprender a falar várias línguas
Quero que me excitem muito, sempre e lentamente
Quero que meu corpo seja tocado como nos pensamentos
Quero conseguir controlar todos os meus sentimentos.
Quero isso e só... até amanhã, pelo menos.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Minha cara

Virei a louca da decoração.

Quero pintar paredes, prender prateleiras, espelhos, comprar cama, cômoda, pendurar quadros, fotos, frescurinhas, encher o ambiente de informação e deixar tudo multicolorido.

Quero fazer tudo ao mesmo tempo e agora.

Mas não tenho dinheiro para tanto.

Ansiosa? Eu? Claro que não... ;)

domingo, 21 de março de 2010

Na falta do que dizer, escreveu

Exausta.

De muita coisa nova ao mesmo tempo.

De coisa antiga.

Da lista mental de tudo o que deve ser resolvido.

Dos itens no papel que precisam ser riscados.

Das noites mal dormidas.

Das gargalhadas curtidas.

Da nova rotina.

Exausta de tudo ao mesmo tempo o tempo todo.

Exausta mas feliz pelo mundo que se move; pelo meu mundo que segue.

Pela vida que não pára, por mais que a gente tente.

Pelo muito ao mesmo tempo.

Exausta da exaustão que logo menos se transformará em rotina.

E assim, o cansaço pode chegar, pode sair, pode voltar e mais uma vez sumir.

Nada que uma boa noite de sono no chão do meu novo mundo não resolva.

Boa noite.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Oi Paraíso!

Ela estava parada na frente da nova casa enquanto suas coisas eram descarregadas, carregadas e amontoadas de forma rápida, fácil e indolor por "anjos da guarda" que nunca tinha encontrado antes.

Ela usava botas, jardineira, mochila de bolinhas e segurava Amadeus, seu macaco de pelúcia, enquanto esperava.

Ouviu, com graça, que estava ali com seu fiel escudeiro. E se viu como os outros a viam. E sorriu do seu ar infantil em uma situação totalmente inoportuna para isso.

E pensou "ah, não preciso vestir roupas sérias para me resolver". E agarrou Amadeus com força até que os dois chegaram ao 13º andar.

Ela se sentiu feliz. Agora, em uma nova vista, tinha todo um mundo inteiro de possibilidades pela frente.

E o prazer de saber que conseguiu mais uma vez, tomou conta do ambiente ensolarado com vista para o parque.

terça-feira, 9 de março de 2010

Tchau Paim - parte 2

Estou exausta.

Já chorei. Pelo menos três vezes. Me desesperei. Surtei mesmo.

Chorei de tristeza, de angústia, de saudade, de medo.

Me senti só, me senti triste, me senti desamparada, me senti perdida.

Fiquei tonta, enjoada, com dor de cabeça.

Sem saber o que fazer, fui entulhando coisas dentro de coisas que já nem lembro mais onde estão.

Pedi ajuda; pensei em pedir ajuda; não pedi ajuda.

Fiz sozinha; alguns amigos vieram ajudar; outros ainda virão.

E fui arrumando, parando, arrumando, parando, arrumando...

Sentei no chão e olhei para a janela. Desde ontem, sempre que posso, olho pela janela.

E assim me despeço da Bela Vista.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Tchau Paim - parte 1

A sensação é muito esquisita.

É a minha primeira mudança sozinha. E só consegui começar a desarrumar a casa dois dias antes da saída oficial.

Parece que todas as caixas, malas, sacos, compartimentos nunca serão o bastante para o que surge a cada gaveta aberta ou cantinho desvendado.

Retiro e jogo fora lembranças de um passado, cartões de visita, recados, roupas e sapatos.

Jogo fora o excesso; e sinto que ainda falta muito.

Talvez amanhã eu chore. Hoje ainda não.

domingo, 7 de março de 2010

Não se afobe não...

Estou angustiada, por uma série de questões.

Vou me mudar. Soube que precisaria sair do apartamento no Carnaval e teria um prazo muito curto para encontrar outro lugar.

Não encontrei nenhum na área onde gostaria e pelo preço que eu gostaria. Até que, já exausta, doente e sem saber o que fazer, recebi um convite. E topei.

Dividirei apartamento. Casa de mulherzinhas mesmo. Eu e mais duas. E nem havia cogitado essa possibilidade. Por gostar de morar só, por gostar da independência, talvez por ser filha única de família pequena que nunca teve a casa cheia.

Mas o "universo cospirou" e vou para o Paraíso (ou Vila Mariana, segundo o google maps). Essa é outra questão. Sempre fui muito apaixonada pela região onde moro, no centro, próximo da Paulista.

Continuarei próxima da Paulista, mas menos, e no outro extremo.

E às vezes fico eufórica. Às vezes assustada. Com a âncora que me puxa para baixo, contra as mudanças, e os balões que me levam para voar alto e explorar novos mundos, hábitos, caminhos.

Não tenho idéia de como será. Só sei que tenho dois dias para arrumar tudo, encaixotar tudo, resolver tudo, e sair do meu apartamento. Lugar de momentos muito felizes e muito tristes. Com histórias e histórias para contar e guardar em quase dois anos.

Acredito até que ter ficado doente também pode ter sido um empurrão (torto) do destino para que eu me despedisse em grande estilo, ficando 4 dias sem colocar os pés para fora dessas poucas paredes. Olhando e me despedindo de cada detalhe. Tudo bem que eu preferia estar bem, otimizando o tempo e adiantado o possível. Mas precisei parar um pouco para cuidar de mim.

O trabalho também me deixou um pouco angustiada. Pessoas me confundem. E questiono se falo demais e se realmente vale a pena ser correta o tempo todo, nunca faltar, sempra seguir as regras, ser caxias... pior é que não consigo ser diferente. Mas um reconhecimento seria bem vindo. Até recebi um, que me deixou bem feliz. Mas logo depois acontece outra coisa que me faz refletir e questionar o que estou fazendo da minha vida profissional. Queria ter projetos meus. Queria saber como colocá-los em prática. Queria um mundo.

E agora, um novo mundo se aproxima. Que seja o início de uma boa fase. Eu mereço.

Noite ensolarada

Mas aí, recebi visitas queridas e parei de me sentir tão só.

Ah, essa montanha-russa emocional que não me deixa respirar em tom contínuo.

sábado, 6 de março de 2010

Dia chuvoso

Hoje me senti sozinha; profunda e completamente só.

Meu pânico de mudanças se manifestou, junto com uma doença chata, que não me deixa ser ativa e me resolver.

E me sinto sozinha.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Eça de Queiroz

Outro dia pensei sobre a literatura na minha vida; em como gosto tanto de escrever mas sou uma leitora terrível. Que eu deveria me esforçar mais, até para treinar a questão da concentração que é o que me afasta dos livros.

Amo enlouquecidamente alguns e admiro profundamente quem é capaz de usar bem as palavras, pensar em tramas, desenvolver diálogos e te transportar completamente para realidades desconhecidas. Me envolvo muito, mas leio muito menos do que gostaria.

E pensando em literatura, do nada, lembrei de Eça de Queiroz. Ele nem é meu preferido, mas gosto muito de Primo Basílio e das adaptações que vi na cinema e TV (Os Maia, O Crime do Padre Amaro e Singularidades de uma Rapariga Loura). Pois é... pensei nele, do nada.

Fato é que nos últimos tempos o "destino" ou sei lá o quê tem me dado vários sinais estranhos e doidos de para onde minha vida deve seguir.

quarta-feira, 3 de março de 2010

"Je" me quitte pas

Saí de casa às três da tarde para tentar resolver problemas e voltei para casa às quatro e meia da manhã sem voz, levemente bêbada, sem problemas resolvidos, mas leve pela diversão que São Paulo me proporciona de vez em quando.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Compositor de Destinos

Hoje relembrei sensações do meu início em SP, logo que cheguei.

Em 16 de fevereiro fiz aniversário de dois anos na cidade, mas o dia passou e nem percebi. Foi na terça-feira de Carnaval e eu estava muito ocupada cuidando do trabalho para pensar ou lembrar disso. O que é bom.

Nunca fui muito boa com datas, mesmo as marcantes, e às vezes até prefiro não lembrar mesmo, sei lá, para evitar a sensação estranha de como o tempo passa rápido.

Mas parando pra pensar, com dois anos de SP, até que estou me saindo bem.

E hoje, em um ponto de ônibus, embaixo de uma árvore num dia chuvoso, sei lá porque, lembrei dos primeiros dias na cidade, logo que cheguei, no Butantã, antiga morada dos Brandões.

Talvez pelo bairro residencial, com cara de residencial, diferente do centro efervescente onde moro.

Não sei, mas até lembrei do cheiro que a cidade tinha, das cores, de tudo tão diferente aos sentidos acostumados à outra vida, outra realidade.

E o tempo passa, sem esperar por ninguém; você que corra atrás dele implorando para que os momentos bons durem uma eternidade, e que os ruins não ultrapassem poucos segundos. Às vezes ele até te atende.